segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Voz que clama no deserto


As conversas com os amigos, as viagens filosóficas, as leituras vorazes e até os filmes e as músicas são minhas formas de convencimento...
Há alguns dias estava conversando e pensando bastante a respeito de “questões teológicas”! Não é isto que mais tem ocupado minha mente ultimamente...Acho que já encontrei meu “ponto de convencimento” a este respeito. Pelo menos por enquanto... Até que surja um fato novo que me tire outra vez a calma tranqüilidade da estabilidade.E aí... Aí começa tudo outra vez!
Mas até lá, decidi escrever um pouco sobre essa recente trajetória em busca de me construir:
Há muito, estou decepcionada com a instituição Igreja...A forma como a Igreja tem tratado e relativizado diversas coisas...A forma como tem reafirmado diversos valores...A forma como não tem lutado pela justiça, ou até mesmo a forma como a Igreja serviu a poucos, ao longo da história, como um meio de dominação...Tudo isso me faz perceber que tem bastante coisa que não está como deveria estar nessa instituição.
Antes de qualquer coisa, é sempre bom lembrar que as Igrejas são instituições humanas, e por isso, plausíveis de erro como quaisquer outras... Isso me faz ser menos rigorosa em minhas críticas...E faz, ao mesmo tempo, desmistificar a “monopolização de Deus” por determinadas Religiões. Deus, em sua transcendência e magnitude, não é passível de ser “enquadrado”. Que arrogância a nossa tentar transformar Deus em propriedade!E então, essas “instituições humanas”, formulam listas de comportamentos para se poder relacionar com Deus. E infligir essa lista resulta em pecado e conseqüente castigo...Não consigo entender que Deus é este! Que fica no céu esperando a gente errar pra nos castigar? Não! Esse não é o Deus que eu acredito... Acredito num Deus, que é AMOR! E que por isso, para nos relacionarmos com Ele, precisamos viver o real significado do Amor...Um Deus que está preocupado com a gente!Que quer o nosso bem! E que por isso- por amor- preferiríamos que não fizéssemos determinadas coisas...Pra não quebrarmos a cara.Como um pai mesmo...Que se preocupa.E não como alguém que nos espera errar para nos castigar!
A igreja não sabe lidar com regras!Ao invés de as tratar como “placas” que indicam o melhor caminho...As tratam como proibições, “prototipizando” as pessoas e seus comportamentos, e sem se fazer um debate sobre o que é proibido, apenas cerceando as individualidades. Ora, que Deus é esse que as pessoas se relacionam, mas Ele não as trata individualmente?? E aí, por não serem todos iguais, e por muitos não conseguirem se adequar às imposições da Igreja, tendo suas atitudes tratadas como erros, vem a culpa!E por isso há tanta gente “doente” dentro das igrejas...E ao mesmo tempo, surge também, uma “aversão” àquilo que não se enquadra nesse padrão estipulado,havendo cada vez mais um distanciamento do diferente! Quem somos nós pra dizer quem tem ou não um relacionamento com Deus?Pra dizer quem o encontrou ou não?E desde quando uma carteirinha me membro de uma religião fará com que você tenha de fato o encontrado?
Além do mais, enxergando Deus como Amor, na minha concepção, é inimaginável compreender essa dicotomia entre o transcendente e o material que algumas igrejas fazem! Ora, o amor quer o melhor para o outro, o amor é justiça! Partindo desse pressuposto, estes que acreditam num Deus que é amor deviam ser os maiores lutadores por Justiça e contra a subjugação dos outros... Nada mais coerente!
Ao mesmo tempo, por eu estar falando em “viver pelo amor”, fazer o bem, aceitar o diferente, etc... Nos dá a impressão de que os Cristãos devem ser assim, perfeitos, sem erros! Ora, somos humanos!Imperfeitos! E o fato de sermos cristãos não nos torna “santos”(como alguns próprios Cristãos acham)...Mas sim que, apesar de "essencialmente maus" existe a possibilidade de se buscar ser melhor...Através das práticas do amor, que são a essência de Cristo!!!Logo, o Cristianismo não passa de uma busca e tentativa de sermos melhores, vivendo através do amor!!
MAS...Apesar de todas essas criticas e ponderações, tenho que me policiar muitas vezes para não me pegar fazendo o mesmo...Enxergar-me como detentora da verdade e vê-los(estes que tratam a Igreja assim) como diferentes, distanciando-me!!Há inúmeros erros...SIM!! Mas segregar-me não é a solução....E não relativizar o ambiente que é a igreja, que é um espaço que propicia o relacionamento(algo tão difícil na dinâmica atual da sociedade), além de aprendizado, um espaço que propaga valores baseados no amor(o que ao meu ver é a maior qualidade da instituição) e um espaço onde tem muita gente bacana e afim de acertar, mas talvez sendo mal direcionado!!
Reconheço todas as complicações a respeito da situação da Instituição Igreja hoje.E reconheço a enorme necessidade de mudança! Mas a mudança pode se dar de duas formas: Posso mudar sozinha e deixar as coisas como estão, ou posso, através das minhas críticas tentar mudar a realidade.
Talvez eu deva “fazer como Moisés e migrar com o povo, usando minha voz como quem clama no deserto, fazendo da minha crítica um diagnóstico de denúncia e profecia do que vemos”.

2 comentários:

GB Silva disse...

Ótimo texto. Eu diria mais: uma voz profética. Precisamos de denúncias como essas para caminharmos com firmeza, na convicção que a Igreja é acima de tudo é eu e voce, o outro...

Gostei mto (principalmente da frase final! rs)

Bjos

Bárbara Matias disse...

Mto bom!

Meio complicado falar dessas coisas por ser um assunto um tanto quanto extenso, polemico, etc. MAs vc tratou desse tema de uma forma mto boa, sincera, ponderada.

Foi bom refletir sobre o q escreveu.
Que o amor de Deus nos ensine a viver!
Bjos